quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Cultura e cultura

"Dar-te-ei finalmente os beijos meus
Deixarei que esses lábios sejam meus, sejam teus.
Esses embalam... esses secam... mas esses ficam."
(Dar-te-ei - Marcelo Jeneci)

"O batom que eu gosto
Pra eu te beijar
Use aquele perfume
Pra me enfeitiçar
Uma flor nos cabelos
Hoje eu quero te amar"
(Hoje eu quero te amar - Cesar Augusto)


Em que a música de Marcelo Jeneci tem de melhor que a outra música, regravada como Arrocha?
Não há melhor, mas sim expressões.
Lendo uma reportagem na Revista Vida Simples (edição 0114/ janeiro 2012), sobre o brega, lembrei das aulas de Sociedade, Cultura e Educação.
Durante esse semestre foram trabalhados os conceitos de cultura, identidade e a relação com a educação.
A cultura, do ponto de vista antropológico, é resultado de tudo que o homem produz, seja material ou imaterial: religião, danças, tradições, memória e até música.
O triste é que fomos "educados" a fazer juízo de valor, como se existisse cultura e Cultura.
Segundo Da Matta (1999)

'Há a idéia da Cultura (com “c” grande) e há a “cultura” (com “c” pequeno). (...) a “Cultura” canibaliza as “culturas”, fechando espaços para manifestações locais e singulares, quase sempre lidas como “atrasadas”, “ingênuas”,“primitivas” e, naturalmente, “desinformadas”, “elementares” e “subdesenvolvidas”.' 

Voltamos ao ponto inicial: o Brasil, um país com diversidade cultural, mas em que a cultura é instrumento de dominação ideológica. Valoriza-se a "Cultura" e deprecia-se a "cultura", nessa mesma em que se enquadram Arrocha e o Pagode.
Hoje a "cultura" está se libertando, não precisa mais da legitimação dos "cultos". Isso tem mudado graças às novas tecnologias e à democratização da comunicação, que, apesar dos pontos tão criticados, trouxe a possibilidade de emancipação da 'cultura dos excluídos'.
Além disso, até a "Cultura" tem utilizado referências da "cultura". Basta olhar a música 'Dar-te-ei' com temática brega, mas roupagem moderninha.
Outros exemplos são os estilos com sobrenome universitário: forró universitário, sertanejo universitário, etc.  Ainda não sei ao certo se é também uma forma de tornar a cultura popular aceitável por parte da elite. Novamente Da Matta (1999): a "Cultura" canibalizando a "cultura".
Mas e nós educadores?
Cultura é identidade, é o que somos, o que valorizamos e o que queremos.
No cotidiano escolar, estamos em contato com identidades, logo culturas, muitas vezes, desvalorizadas pelo jogo de dominação ideológica.
Sem preconceitos ou juízo de valor, devemos mediar a construção da estrada para o exercício da cidadania por essas pessoas. Através da educação, o discente aprende a se conhecer, a fortalecer e a valorizar a sua identidade.
Mais fortes, fica mais fácil articular mudanças.

2.2011

Referências:

DA MATTA, Roberto. A dualidade do conceito de cultura. Jornal O Estado de São Paulo, 19/05/1999.

SOUZA, Tatiane dos Santos. Cultura e desenvolvimento local: reflexões sobre a experiência do Programa Viva Nordeste. Dissertação (mestrado) – UFBA, 2008.

SANTANA, Noemi Pereira de. Aula 2 – Cultura e Socialização. In: UNIVERSIDADE SALVADOR - UNIFACS. Módulo da disciplina Sociedade, Cultura e Educação: curso de Pedagogia. Salvador: Unifacs EaD, 2011 p. 83 a 94. Disponível em: <http://www.ead.unifacs.br/moodle/file.php/2947/aulas/sce_aula2.html>


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