domingo, 12 de julho de 2015

Escola Tarja Preta

No domingo, dia 05/07/2015, na Revista Muito, do Jornal A Tarde, a profa. da Faculdade de Educação da UFBA e doutora em psicologia escolar, Lygia Viégas, deu uma entrevista em que denuncia o uso indiscriminado dos medicamentos Ritalina e Concerta para as crianças se ajustarem à escola sob o argumento de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade).
Ela tocou em vários pontos como a cobrança social de estarmos produzindo o tempo todo e sem angústia. Então vem a medicação tarja preta como sinônimos de fórmulas mágicas para a felicidade.
Entretanto, mesmo com números alarmantes, a sociedade não questiona a escola. Questiona-se os alunos e os professores, mas a escola é intocável?
Salas superlotadas, aulas expositivas e descontextualizadas, material pedagógico pouco atrativo, cenário que não interessa às crianças de hoje que, como falou a profa. Lygia:

 "crianças que estão antenadas na internet, que assistem vídeos, que produzem vídeos. Temos uma criança digital numa escola analógica. Essa escola ainda que as crianças fiquem sentados, olhando para a frente, sem conversar, só copiando..."

A escola precisa mudar! Hoje há várias experiências de desescolarização. A desescolarização, em termos gerais, é tirar a estrutura e as amarras escolares da aprendizagem. As pessoas podem aprender em casa, no trabalho, no banheiro, em rede, de forma personalizada e/ou colaborativa e/ou com experiências. Essa forma livre e autogerida de aprendizagem pode inspirar novos formatos de escola, em que o sujeito é respeitado em sua individualidade. Não há mais espaço, em pleno século XXI, para a escola como modelo de fábrica que produz sujeitos iguais e dentro de um padrão.
Acredito na brincadeira e no lúdico para abrir novas possibilidades para a escola, inclusive com games. Como diz a profa. Lygia: "A gente precisa ver potência ao invés de ver doença."

Em tempo: neste momento que escrevo esta postagem, no Cartoon Network passa o desenho "Clarêncio, o otimista". No episódio, o personagem principal e o amigo são suspensos. E adivinha? Eles começam a buscar conhecimento em vários lugares sobre vários assuntos, até mesmo proteger a casa de alienígenas. Bem interessante! O futuro já está acontecendo.


Fonte:

VIÉGAS, Lygia. Precisamos ver potência, ao invés de ver doença. Muito, Salvador, p. 6-10, 5 jul. 2015. Entrevista concedida à Tatiana Mendonça.





sexta-feira, 26 de junho de 2015

Para refletir: qual a escola do seus sonhos? Frei Beto já tem a dele!

A Escola dos meus Sonhos

Frei Betto



Na escola dos meus sonhos, os alunos aprendem a cozinhar, costurar, consertar eletrodomésticos, a fazer pequenos reparos de eletricidade e de instalações hidráulicas, a conhecer mecânica de automóvel e de geladeira e algo de construção civil. Trabalham em horta, marcenaria e oficinas de escultura, desenho, pintura e música. Cantam no coro e tocam na orquestra. Uma semana ao ano integram-se, na cidade, ao trabalho de lixeiros, enfermeiras, carteiros, guardas de trânsito, policiais, repórteres, feirantes e cozinheiros profissionais. Assim aprendem como a cidade se articula por baixo, mergulhando em suas conexões que, à superfície, nos asseguram limpeza urbana, socorro de saúde, segurança, informação e alimentação.

Não há temas tabus. Todas as situações-limite da vida são tratadas com abertura e profundidade: dor, perda, falência, parto, morte, enfermidade, sexualidade e espiritualidade. Ali os alunos aprendem o texto dentro do contexto: a Matemática busca exemplos na corrupção dos precatórios e nos leilões das privatizações; o Português, na fala dos apresentadores de TV e nos textos de jornais; a Geografia, nos suplementos de turismo e nos conflitos internacionais; a Física, nas corridas de Fórmula-1 e nas pesquisas do supertelescópio Huble; a Química, na qualidade dos cosméticos e na culinária; a História, na violência de policiais contra cidadãos, para mostrar os antecedentes na relação colonizadores - índios, senhores - escravos, Exército - Canudos, etc.

Na escola dos meus sonhos, a interdisciplinaridade permite que os professores de Biologia e de Educação Física se complementem; a multidisciplinaridade faz com que a História do livro seja estudada a partir da análise de textos bíblicos; a transdisciplinaridade introduz aulas de meditação e dança e associa a história da arte à história das ideologias e das expressões litúrgicas. Se a escola for laica, o ensino religioso é plural: o rabino fala do judaísmo, o pai-de-santo, do candomblé; o padre, do catolicismo; o médium, do espiritismo; o pastor, do protestantismo; o guru, do budismo, etc. Se for católica, há periódicos retiros espirituais e adequação do currículo ao calendário litúrgico da Igreja. Na escola dos meus sonhos, os professores são obrigados a fazer periódicos treinamentos e cursos de capacitação e só são admitidos se, além da competência, comungam os princípios fundamentais da proposta pedagógica e didática. Porque é uma escola com ideologia, visão de mundo e perfil definido do que sejam democracia e cidadania. Essa escola não forma consumidores, mas cidadãos.

Ela não briga com a TV, mas leva-a para a sala de aula: são exibidos vídeos de anúncios e programas e, em seguida, analisados criticamente. A publicidade do iogurte é debatida; o produto adquirido; sua química, analisada e comparada com a fórmula declarada pelo fabricante; as incompatibilidades denunciadas, bem como os fatores porventura nocivos à saúde. O programa de auditório de domingo é destrinchado: a proposta de vida subjacente, a visão de felicidade, a relação animador-platéia, os tabus e preconceitos reforçados, etc. Em suma, não se fecham os olhos à realidade, muda-se a ótica de encará-la. Há uma integração entre escola, família e sociedade. A Política, com P maiúsculo, é disciplina obrigatória. As eleições para o grêmio ou diretório estudantil são levadas a sério e, um mês por ano, setores não vitais da instituição são administrados pelos próprios alunos. Os políticos e candidatos são convidados para debates e seus discursos analisados e comparados às suas práticas.

Não há provas baseadas no prodígio da memória nem na sorte da múltipla escolha. Como fazia meu velho mestre Geraldo França de Lima, professor de História (hoje romancista e membro da Academia Brasileira de Letras), no dia da prova sobre a Independência do Brasil, os alunos traziam para a classe a bibliografia pertinente e, dadas as questões, consultavam os textos, aprendendo a pesquisar. Não há coincidência entre o calendário gregoriano e o curricular. João pode cursar a 5ª série em seis meses ou em seis anos, dependendo de sua disponibilidade, aptidão e seus recursos. É mais importante educar do que instruir; formar pessoas que profissionais; ensinar a mudar o mundo que ascender à elite. Dentro de uma concepção holística, ali a ecologia vai do meio ambiente aos cuidados com nossa unidade corpo-espírito e o enfoque curricular estabelece conexões com o noticiário da mídia.

Na escola dos meus sonhos, os professores são bem pagos e não precisam pular de colégio em colégio para se poderem manter. Pois é a escola de uma sociedade em que educação não é privilégio, mas direito universal, e o acesso a ela, dever obrigatório.

 Frei Betto é escritor, autor do romance "O Vencedor" (Ática), entre outros livros. 

Fonte:

http://www.bancodeescola.com/freibeto.htm

sábado, 20 de junho de 2015

Refletindo sobre gênero

Como pedagogas e pedagogos, devemos ler sobre diversos assuntos e mais ainda sobre temáticas que podem influenciar o nosso trabalho. Foi assim que me interessei pelo livro “Abaixo a Família Monogâmica!”, de Sérgio Lessa.
Antes de começar a lê-lo, eu possuía algumas certezas, como:
  • Monogamia é o inverso/oposto da poligamia;
  • A família monogâmica (independente de ser na formatação hetero ou homo) é algo inquestionável, ou seja, é o que conheço. Forçando um pouco a barra, é resultado de amor entre os indivíduos (pode rir!).

Logo no título enxergo uma provocação às minhas certezas. Entretanto, gosto de me sentir sacudida por outros pontos de vista e ver que, diferente do que nos é imposto durante a nossa formação, não há naturalidade, mas ideologias e formas de dominação.
É assim que vou me confrontando com as ideias do livro:
A monogamia e a poligamia são faces da mesma moeda e não formas opostas de organização familiar. Ambas na sociedade de classes é a subjugação da mulher pelo homem.
Com o capitalismo, a propriedade privada, a sociedade de classes e o individualismo, não há como permanecer coletiva a criação dos filhos, a educação e os cuidados. Logo...
A mulher é retirada da vida coletiva e passa a servir ao marido. Ela é sobrecarregada com a maternidade, a mediação entre o “senhor”, os filhos, os empregados, o cuidar da casa.
É nessa organização da família monogâmica que a mulher como propriedade do marido não lhe é dado espaço para desenvolver sua personalidade e sua sexualidade. Afinal, um objeto não tem vontades e nem pensa. E ao homem cabe o papel do predador  sexual e provedor. Ambos são incompletos porque ou é emoção ou razão.
E é assim que se justifica as atitudes de violência e de opressão pelo instinto “natural” masculino.
Entretanto, o que me atingiu em cheio é saber que o próprio formato da “família monogâmica” está intrinsecamente ligado ao sistema capitalista. Ou seja, nada está imune ao capitalismo, nem mesmo o “amor”. A monogamia não é a livre vontade de se relacionar com uma pessoa, mas uma parte da ideologia do capital.
No papel de pedagogas (os) com uma consciência mínima, é preciso estar conscientes para não continuar alimentando esses preconceitos e preceitos na formação dos alunos e alunas.  Não devemos reforçar estereótipos!
É fundamental estarmos atentas e atentos ao Currículo Oculto. As nossas posturas, as nossas ideologias e nossas certezas não podem reafirmar opressões e exclusões. Claro que é um papel difícil, mas essencial.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Aprendendo além da escola

Meu filho no seu aniversário pediu para viajar comigo e com o pai. Tirei férias na semana do parabéns dele a fim de proporcionar isso.
Nós sempre viajamos desde que o pequenino nasceu e sempre procurando novas experiências em família, mas ultimamente nos fins de semana o pai tem trabalhado muito e não temos tido a chance de fugirmos para as estradas. Portanto, não é à toa o pedido dele.
Algumas pessoas questionaram a decisão, já que meu filho teria que faltar dois dias de aula.
Bem, sobre isso, por não ser tão partidária da escola, acredito que uma criança viajando com a família, em momentos de descontração e prazer, aprendem tanto ou mais que na escola. Durante a viagem, surgem oportunidades de aprendizagem. É claro que se os pais estiverem atentos a isso podem estimular sem serem professorais e formais.
Viajamos pela Chapada Diamantina, por três cidades diferentes. Foi possível observar o clima (por que uma cidade é fria e outra não?), vegetação, cultura (comidas locais) e história (o garimpo). Além disso, visitamos um museu em que tinham objetos de uso diário, como: o ferro de passar roupa a carvão, rádios antigos, objetos do garimpo e até palmatória. Além de se divertir, ele aprendeu muito.
Veja mais sobre aprender na viagem no endereço abaixo:



terça-feira, 5 de maio de 2015

Novos Rumos

Terminei o curso de Pedagogia em novembro de 2014.
Fiz os estágios que faltavam na Escola Municipal Aristides Novis na Federação. Gostei tanto, pois pude confrontar muitas das teorias com a prática. Pude ver e sentir a importância do professor na vida das crianças que, em muitos casos, tem uma família desestruturada e pouco ou nenhum afeto. A realidade é nua e crua e também machuca (algumas vezes chorei ao chegar em casa).
Vi também como a escola, em relação aos conteúdos, ainda precisa dar um salto. E isso eu digo em relação tanto à escola pública como a particular. Foi sobre esta temática que falei no meu memorial - "Escola para que? Reflexões sobre o modelo de escola que queremos".
Através da escrita do memorial e durante o curso de Pedagogia, tive a oportunidade de pensar sobre educação e o papel da escola.
Educação vai além da escola. É um processo de transformação e descoberta do mundo, como também, significa troca, diálogo. É subjetivação e acontece a todo momento na vida. Essa é uma das poucas certezas que tenho ao final desse ciclo: não se aprende apenas no espaço escolar, mas em qualquer lugar.
Não acredito nesse formato que aí está dessas instituições escolares. É ainda o mesmo modelo de meu tempo de estudante (20 anos atrás): excludente, que não estimula o pensar e o pesquisar, com aulas expositivas, conteúdos descontextualizados e processo centralizado no docente.
Basta ouvirmos as crianças e jovens para confirmar a crise dessa configuração de escola. Os alunos não conseguem se sentir atraídos pelo espaço escolar, resultando, muitas vezes, em indisciplina e evasão. Utilizando as palavras de CANÁRIO (in MOSÉ 2013), é fundamental “pensar a escola a partir do não escolar.”
Sabe-se que mudanças demandam tempo e, conforme observei nessa caminhada, algumas colegas que já exercem a profissão, calejadas pelas condições de trabalho, perderam os sonhos relacionados a transformações na educação.
Compreendo que seja difícil manter viva a esperança quando o dia a dia lhe oprime.
Mesmo assim, tenho a utopia de participar da construção de uma nova forma de ensinar e aprender, seja na escola ou em outro formato. Segundo PIZA (in GRAVATÁ 2013):

“Inovação, na esfera da educação, está relacionada à coragem de romper com formatos conhecidos para fazer diferente, reconhecendo que nem sempre o que é uma solução inovadora para uma escola ou cultura será replicável em outra.” (p. 272).

 Após pesquisar sobre várias experiências bem-sucedidas, acredito ainda mais em minha profissão como transformadora e espero poder colaborar para a formação de sujeitos críticos, autônomos e participativos.
Para finalizar, faço minhas as ideias de ANTUNES (in MOSÉ 2013) sobre a escola do futuro:

“é aquela em que o aluno, essencialmente, vai buscar aprender a aprender. Ele não vai aprender coisas, as coisas são ferramentas para o processo do aprender. E a escola será aquele centro de aprendizagem que vai abrir a sua perspectiva de saber ler, de saber ver, saber dizer, saber falar; enfim, tornar-se proprietário de todos aqueles elementos que dão a plenitude da dignidade ao homem. Essa é uma escola que não renuncio à esperança de ainda vê-la.” (p. 207).

Com a conclusão do curso, o blog toma novos rumos: exposição de ideias sobre educação.

Fontes:

GRAVATÁ, André Gravatá et al. Volta ao mundo em 13 escolas. São Paulo : Fundação Telefônica : A. G., 2013, 288 p. Disponível em < http://educacaosec21.org.br/wp-content/uploads/2013/10/131015_Volta_ao_mundo_em_13_escolas.pdfem 23/07/2014.

MOSÉ, Viviane. A Escola e os Desafios Contemporâneos. 2A edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.