terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Estudantes digitais e professores analógicos

No encontro de 25/02/2012, a maior expectativa de todos da turma foi saber quem continua ou quem desistiu devido às dificuldades do primeiro semestre, como o método EAD, a questão da autonomia e das novas tecnologias.

O encontro teve apenas 7 estudantes: Rose, Thania, Jane, Luiz, Amelia, Mônica e Manuela.
Fiquei pensando o quanto é dificil estudar após assumir uma vida com filhos, casamento, trabalho... Ter que se debruçar em textos com linguagem, muitas vezes, fora do nosso cotidiano, forçar nosso cérebro a sair do automático, descortinar novas possibilidades. Precisamos de uma motivação e força extras para sair da zona de conforto. O melhor (ou pior) disso tudo é que devemos encontrar essa motivação dentro de nós mesmos!

Alguns se renderam por não pedirem ajuda ao colega, porque não sabiam o que e como fazer na frente de um PC... Colegas com experiência em sala de aula que não se apavoram com crianças e/ou adultos (seres complexos), mas se amendrontam com uma máquina.

É possível, em plena tempestade de tecnologia, sermos professores analógicos? Qual a linguagem que devemos usar com os alunos? Alguns aprendem a teclar antes mesmo de saberem escrever direito.

Sei que isso é um detalhe no processo de ensino-aprendizagem, porém sabermos falar com eles e na língua deles ajuda na construção do conhecimento, permite entender a força que essa ferramenta pode ter quando bem empregada. As novas tecnologias podem ser instrumento da educação, podem auxiliar na emancipação dessas crianças e adolescentes.

Vamos abrir nossa mente, como dizia Paulo Freire (1996):

       "ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação"

1.2012


Referência:


GALVÃO, Nelma e UZÊDA, Sheila. Aula 2 – Os Paradigmas Norteadores da Educação Especial. In: UNIVERSIDADE SALVADOR - UNIFACS. Módulo da disciplina Educação Especial: curso de Pedagogia. Salvador: Unifacs EaD, 2012 p. 13 a 18. Disponível em: <http://www.ead.unifacs.br/moodle/file.php/3196/aulas/especial_aula02.html>


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Expectativas e um banho de realidade


Passou o Carnaval cidade! Acorda pra ver! Novo semestre do curso de Pedagogia, novas disciplinas, expectativas renovadas.

Arte Educação, Educação e Cidadania, Educação Especial, Psicologia da Educação... Ufa! Parece-me à primeira vista bastante complexo, mas tratarão de assuntos que me interessam. Uma das vertentes da Pedagogia que me atrai é a Social. Anseio por desenvolver algum trabalho que possibilite mudanças, mesmo que pequenas, para as pessoas. Quem sabe até em Santiago do Iguape, terra que frequento.
Por falar em Santiago do Iguape, passei o Carnaval lá e um fato mexeu muito comigo. Um garotinho doce com olhos desejosos de afeto (de uns 7 a 8 anos) estava quase sempre na casa de minha mãe, onde procurava os abraços e beijos dela e brincava comigo, minha sobrinha (5 anos) e meu filho (4 anos). Pois bem, o pessoal (minha mãe, três amigos e meu marido) resolveu sair fantasiado de Nego Fugido pelas ruas da localidade e ele foi se vestir de índio para poder sair junto.

Estava tudo bem, até o pai dele, que estava visivelmente bêbado, puxar o menino e justificar que aquela situação poderia fazê-lo perder a guarda da criança, que , segundo ele, conseguiu com tanto custo. Inicialmente, irritou-me porque o que ele estava fazendo era pior: fora de controle com copo de conhaque na mão e sem nem saber onde estava o seu filho. Depois a irritação virou revolta quando fiquei sabendo que era apenas pelo medo de perder o Bolsa Família.

Durante esse discurso da guarda, o garotinho chorou, um choro abafado. Não sei decifrar de que: medo, tristeza, solidão?

Meu marido e os amigos que são nativos de lá e conhecem o referido senhor disseram que ele é grosseiro e bate muito no menino. O pior tratamento é dado a esse filho por desconfiar não ser o pai dele.

No dia seguinte, meu esposo encontrou com o garotinho e perguntou se o pai havia feito algum mal a ele. Respondeu que não, mas depois do episódio não foi mais a nossa casa.

Daí fiquei arrasada, passaram-se três dias e quando vejo a foto dele no meu celular, bate a tristeza e a impotência, a culpa de não ter feito nada...

Sensação essa que não posso deixar tomar conta de mim, já que para ser pedagogo e lidar com vidas, não podemos perder as esperanças de conseguir uma pequena mudança, mesmo pequena, o mais importante é que ela venha!


1.2012

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Que Escola Queremos?

Essa pergunta é muito difícil de responder principalmente para pais pedagogos. Dividimo-nos entre o conhecimento voltado para o cada vez mais afunilado mercado de trabalho e o desenvolvimento e emancipação do ser humano.
Para começar, gostaria de falar sobre a Disciplina Abordagem Histórico-Filosófica da Educação, em que essas reflexões começaram a brotar.
Primeiro, tomei conhecimento sobre as tendências filosóficas da Educação e sobre as Pedagogias Liberal e Progressista.
Bem, na prática pedagógica, o professor, invariavelmente, se orienta por uma das tendências filosóficas: redentora, reprodutora e transformadora.
Na educação redentora, a finalidade é a adaptação do indivíduo ao meio social, desenvolvendo suas habilidades e ensinando os valores necessários para essa convivência. Nessa tendência, a educação é exterior à sociedade e possui o papel de redimi-la. A maioria das escolas encontra-se nessa posição e as práticas diárias demonstram isso. Observando a escola em que meu filho estuda, de ensino privado, localizada na Federação, os alunos de Educação Infantil (4 e 5 anos) são direcionados a seguir as atividades propostas e a aprenderem a conviver naquelas regras, independente de suas subjetividades.
A educação reprodutora, como o próprio nome já diz, reproduz o modelo social vigente, inclusive as diferenças sociais, culturais, de gênero e étnicas. A escola surge como principal instrumento ideológico do Estado que garante a continuidade da hegemonia política, em vez de democratizar. Também na maioria dos espaços escolares, há a reprodução dos preconceitos, estereótipos e pouco respeito à diversidade. Na escola citada anteriormente, reforça-se a questão irreal de um país de uma só cultura, pois não se aborda outras no dia-a-dia, como a negra ou a indígena, apenas no Dia do Folclore, como algo alegórico ou excêntrico, perpetuando o preconceito.
A transformadora é utilizada como ferramenta para concretizar um projeto social que pode ser conservador ou de mudança. Para essa tendência, pode-se exemplificar o Projeto Axé, espaço educativo para crianças e jovens em situação de rua. Trabalha-se a auto-estima, a inclusão social, a cidadania, a igualdade de oportunidades e saberes, enfim, o enfrentamento da exclusão, consequentemente, a transformação da sociedade.
As Tendências Pedagógicas tratam da prática escolar. Segundo LUCKESI (1990), “a perspectiva redentora se traduz pelas pedagogias liberais e a perspectiva transformadora pelas pedagogias progressistas”.
As Pedagógicas Liberais, influenciadas pelos ideais da Revolução Francesa, defendem a liberdade e os interesses individuais. A preocupação primordial é preparar o indivíduo para desempenhar papéis sociais, desenvolvendo sua cultura e tornando-o capaz de se adaptar às regras da sociedade. Divide-se em tradicional, renovada progressivista, renovada não-diretiva e tecnicista.
A Pedagogia Progressista tem uma proposta que não se adéqua à sociedade capitalista, pois defende a análise crítica da realidade e as finalidades sociopolíticas da educação. Subdivide-se em libertadora ou pedagogia de Paulo Freire, a libertária e a crítico-social dos conteúdos.
A libertadora, que é a que mais me interessa,  propõe a conscientização do indivíduo a partir da sua realidade. Acredita que, para a transformação da realidade, a educação é um instrumento. Tanto os professores como os estudantes devem aprender e ser agentes críticos do processo ensino-aprendizagem. Nesse sentido, a atividade pedagógica se baseia em grupos de discussão e utiliza-se de temas sociais e políticos.
Após passar por toda essa teoria, fiquei pensando em como adequar a Pedagogia de Paulo Freire ou Libertadora à realidade atual tão voltada para o “chegar lá” (sucesso profissional, status, dinheiro, etc). Pareceu-me idealista demais!
O livro “Medo e Ousadia” (1986) esclareceu alguns pontos através das experiências e vivências dos autores Ira Shor e Paulo Freire e de outros professores, que tentaram aliar o conteúdo oficial com a educação libertadora.
O primeiro ponto que me chamou atenção foi o objetivo da transformação. Segundo os próprios autores, a sociedade usa a educação como aparelho ideológico, então é utópico esperar que essa mesma elite mude essa realidade. Esse papel de “futucar e semear” a percepção crítica nos alunos deve ser cumprido pelo professor, debatendo sobre o status quo e denunciando a reprodução da ideologia dominante.
Soa bonito, mas o que mais me envolveu e pareceu mais possível é o estímulo e desenvolvimento do espírito crítico e a consequente transformação, seja ela uma marola ou um tsunami. O mais importante é sair do automatismo, da educação “bancária” (depósito de conteúdos).
Essa discussão foi bem intensa na nossa sala de aula durante a apresentação do Projeto Pessoal da colega Cora Corinta, em que ela expôs o desejo de trabalhar com crianças em condições e com métodos diferentes do que vemos por aí. Foi bombardeada pelas outras colegas que tem experiência em sala de aula (provavelmente, reprodutora). Fiquei desanimada ao ver o que a ideologia dominante pode fazer com os ideais e ideias dos educadores.
Essa situação está prevista também no segundo questionamento: o receio dos professores de praticar uma educação emancipadora e perder o emprego. Como conciliar o conteúdo engessado com debates sobre temas além dos muros da escola? E os alunos com expectativas tradicionais estão preparados para isso?
A posição dos autores foi interessante e trouxe um “sopro de esperança”, pois defende que o educador libertador pode oferecer a formação profissional, entretanto sem mistificações e levantando questões críticas, abrindo espaço para discussões. Assim esse aluno não será apenas mais um adulto no mercado, mas um cidadão preparado para “ler” a realidade, exigir seus direitos e conseguir pequenas mudanças à sua volta.
Essa escola é a que gostaria de ver concretizada: seguindo o currículo formal, porém instigando os discentes a pensar e a questionar o status quo, a conhecer a multiplicidade da cultura brasileira, a utilizar as novas linguagens para mobilizar e protestar, ou seja, menos reprodutora e mais transformadora.

2.2011


Referências:
FAGUNDES, Tereza Cristina Pereira. Aula 06 – Correntes Filosóficas In: UNIVERSIDADE SALVADOR – UNIFACS. Módulo da disciplina Abordagens Histórico-Filosóficas da Educação: curso de Pedagogia. Salvador:Unifacs EaD, 2011, p. 53 a 56.
FAGUNDES, Tereza Cristina Pereira. Aula 07 – Pedagogia Liberal In: UNIVERSIDADE SALVADOR – UNIFACS. Módulo da disciplina Abordagens Histórico-Filosóficas da Educação: curso de Pedagogia. Salvador:Unifacs EaD, 2011, p. 57 a 62.
FAGUNDES, Tereza Cristina Pereira. Aula 08 – Pedagogia Progressista In: UNIVERSIDADE SALVADOR – UNIFACS. Módulo da disciplina Abordagens Histórico-Filosóficas da Educação: curso de Pedagogia. Salvador:Unifacs EaD, 2011, p. 63 a 68.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Educação e Sociedade: Redenção, Reprodução e Transformação. São Paulo: Cortez Editora, 1990. p.37 a 52.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Tendências Pedagógicas da Prática Escolar. São Paulo: Cortez Editora, 1990. p.53 a 75.
FREIRE, Paulo e SHOR, Ira. Medo e Ousadia – O Cotidiano do Professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.