domingo, 5 de fevereiro de 2012

Que Escola Queremos?

Essa pergunta é muito difícil de responder principalmente para pais pedagogos. Dividimo-nos entre o conhecimento voltado para o cada vez mais afunilado mercado de trabalho e o desenvolvimento e emancipação do ser humano.
Para começar, gostaria de falar sobre a Disciplina Abordagem Histórico-Filosófica da Educação, em que essas reflexões começaram a brotar.
Primeiro, tomei conhecimento sobre as tendências filosóficas da Educação e sobre as Pedagogias Liberal e Progressista.
Bem, na prática pedagógica, o professor, invariavelmente, se orienta por uma das tendências filosóficas: redentora, reprodutora e transformadora.
Na educação redentora, a finalidade é a adaptação do indivíduo ao meio social, desenvolvendo suas habilidades e ensinando os valores necessários para essa convivência. Nessa tendência, a educação é exterior à sociedade e possui o papel de redimi-la. A maioria das escolas encontra-se nessa posição e as práticas diárias demonstram isso. Observando a escola em que meu filho estuda, de ensino privado, localizada na Federação, os alunos de Educação Infantil (4 e 5 anos) são direcionados a seguir as atividades propostas e a aprenderem a conviver naquelas regras, independente de suas subjetividades.
A educação reprodutora, como o próprio nome já diz, reproduz o modelo social vigente, inclusive as diferenças sociais, culturais, de gênero e étnicas. A escola surge como principal instrumento ideológico do Estado que garante a continuidade da hegemonia política, em vez de democratizar. Também na maioria dos espaços escolares, há a reprodução dos preconceitos, estereótipos e pouco respeito à diversidade. Na escola citada anteriormente, reforça-se a questão irreal de um país de uma só cultura, pois não se aborda outras no dia-a-dia, como a negra ou a indígena, apenas no Dia do Folclore, como algo alegórico ou excêntrico, perpetuando o preconceito.
A transformadora é utilizada como ferramenta para concretizar um projeto social que pode ser conservador ou de mudança. Para essa tendência, pode-se exemplificar o Projeto Axé, espaço educativo para crianças e jovens em situação de rua. Trabalha-se a auto-estima, a inclusão social, a cidadania, a igualdade de oportunidades e saberes, enfim, o enfrentamento da exclusão, consequentemente, a transformação da sociedade.
As Tendências Pedagógicas tratam da prática escolar. Segundo LUCKESI (1990), “a perspectiva redentora se traduz pelas pedagogias liberais e a perspectiva transformadora pelas pedagogias progressistas”.
As Pedagógicas Liberais, influenciadas pelos ideais da Revolução Francesa, defendem a liberdade e os interesses individuais. A preocupação primordial é preparar o indivíduo para desempenhar papéis sociais, desenvolvendo sua cultura e tornando-o capaz de se adaptar às regras da sociedade. Divide-se em tradicional, renovada progressivista, renovada não-diretiva e tecnicista.
A Pedagogia Progressista tem uma proposta que não se adéqua à sociedade capitalista, pois defende a análise crítica da realidade e as finalidades sociopolíticas da educação. Subdivide-se em libertadora ou pedagogia de Paulo Freire, a libertária e a crítico-social dos conteúdos.
A libertadora, que é a que mais me interessa,  propõe a conscientização do indivíduo a partir da sua realidade. Acredita que, para a transformação da realidade, a educação é um instrumento. Tanto os professores como os estudantes devem aprender e ser agentes críticos do processo ensino-aprendizagem. Nesse sentido, a atividade pedagógica se baseia em grupos de discussão e utiliza-se de temas sociais e políticos.
Após passar por toda essa teoria, fiquei pensando em como adequar a Pedagogia de Paulo Freire ou Libertadora à realidade atual tão voltada para o “chegar lá” (sucesso profissional, status, dinheiro, etc). Pareceu-me idealista demais!
O livro “Medo e Ousadia” (1986) esclareceu alguns pontos através das experiências e vivências dos autores Ira Shor e Paulo Freire e de outros professores, que tentaram aliar o conteúdo oficial com a educação libertadora.
O primeiro ponto que me chamou atenção foi o objetivo da transformação. Segundo os próprios autores, a sociedade usa a educação como aparelho ideológico, então é utópico esperar que essa mesma elite mude essa realidade. Esse papel de “futucar e semear” a percepção crítica nos alunos deve ser cumprido pelo professor, debatendo sobre o status quo e denunciando a reprodução da ideologia dominante.
Soa bonito, mas o que mais me envolveu e pareceu mais possível é o estímulo e desenvolvimento do espírito crítico e a consequente transformação, seja ela uma marola ou um tsunami. O mais importante é sair do automatismo, da educação “bancária” (depósito de conteúdos).
Essa discussão foi bem intensa na nossa sala de aula durante a apresentação do Projeto Pessoal da colega Cora Corinta, em que ela expôs o desejo de trabalhar com crianças em condições e com métodos diferentes do que vemos por aí. Foi bombardeada pelas outras colegas que tem experiência em sala de aula (provavelmente, reprodutora). Fiquei desanimada ao ver o que a ideologia dominante pode fazer com os ideais e ideias dos educadores.
Essa situação está prevista também no segundo questionamento: o receio dos professores de praticar uma educação emancipadora e perder o emprego. Como conciliar o conteúdo engessado com debates sobre temas além dos muros da escola? E os alunos com expectativas tradicionais estão preparados para isso?
A posição dos autores foi interessante e trouxe um “sopro de esperança”, pois defende que o educador libertador pode oferecer a formação profissional, entretanto sem mistificações e levantando questões críticas, abrindo espaço para discussões. Assim esse aluno não será apenas mais um adulto no mercado, mas um cidadão preparado para “ler” a realidade, exigir seus direitos e conseguir pequenas mudanças à sua volta.
Essa escola é a que gostaria de ver concretizada: seguindo o currículo formal, porém instigando os discentes a pensar e a questionar o status quo, a conhecer a multiplicidade da cultura brasileira, a utilizar as novas linguagens para mobilizar e protestar, ou seja, menos reprodutora e mais transformadora.

2.2011


Referências:
FAGUNDES, Tereza Cristina Pereira. Aula 06 – Correntes Filosóficas In: UNIVERSIDADE SALVADOR – UNIFACS. Módulo da disciplina Abordagens Histórico-Filosóficas da Educação: curso de Pedagogia. Salvador:Unifacs EaD, 2011, p. 53 a 56.
FAGUNDES, Tereza Cristina Pereira. Aula 07 – Pedagogia Liberal In: UNIVERSIDADE SALVADOR – UNIFACS. Módulo da disciplina Abordagens Histórico-Filosóficas da Educação: curso de Pedagogia. Salvador:Unifacs EaD, 2011, p. 57 a 62.
FAGUNDES, Tereza Cristina Pereira. Aula 08 – Pedagogia Progressista In: UNIVERSIDADE SALVADOR – UNIFACS. Módulo da disciplina Abordagens Histórico-Filosóficas da Educação: curso de Pedagogia. Salvador:Unifacs EaD, 2011, p. 63 a 68.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Educação e Sociedade: Redenção, Reprodução e Transformação. São Paulo: Cortez Editora, 1990. p.37 a 52.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Tendências Pedagógicas da Prática Escolar. São Paulo: Cortez Editora, 1990. p.53 a 75.
FREIRE, Paulo e SHOR, Ira. Medo e Ousadia – O Cotidiano do Professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.

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