Na primeira atividade de PPPVI, escolhemos fazer um projeto de Romero Britto com crianças do Ensino Fundamental I, conforme abaixo:
JUSTIFICATIVA
A Arte é um dos fatores principais de
humanização, pois para produzi-la o ser humano precisa interagir
com o mundo ao seu redor e com os outros. Para a criança é ainda
mais importante porque, desde cedo, ela se expressa, se comunica e
atribui sentidos a sentimentos, pensamentos e realidade por meio de
rabiscos nas paredes, desenhos no próprio corpo, danças e
movimentos. Portanto, a educação através da arte e do lúdico
auxilia a criança na sua compreensão de mundo e no seu
desenvolvimento psicomotor, afetivo, cognitivo e estético,
tornando-se um sujeito total, completo. Conforme BUORO (2000, in
COLETO 2010) “Arte se ensina, Arte se aprende”.
Entretanto, as instituições
escolares desconsideram a
necessidade da arte, utilizando-a como forma de repouso ou distração
das crianças e não como ferramenta de transformação de atitudes,
de cognição e de expressão.
Sabe-se que para a escola ser um
espaço de construção e significados, deve se pautar pela educação
dos sentidos, ir além de ensinar a desenhar e pintar, mas orientar a
criança a perceber, ver, descrever, pensar e interpretar.
Com essa postura de reflexão, a
Arte-Educação pode ser o caminho mais curto para enfrentar
dificuldades de aprendizagem, letramento e problemas de
relacionamento, utilizando-se da criatividade.
As crianças do século XXI são
bombardeadas pelas mídias e imagens, seja da TV, Internet, filmes,
seja da publicidade. A cultura visual contemporânea atualmente
desafia os sentidos e definições da própria arte, rompendo com os
cânones tradicionais.
As novas formas de produção
artística oriundas das novas tecnologias possuem cores, formas e
movimento. São editorações gráficas, web design, fotografias,
vídeos, buscando sempre a expressão de ideias e sentimentos. É o
fazer artístico adaptado às novas realidades.
Essa produção artística possui
sinais que precisam ser decodificados, para serem compreendidos. Para
isto, é fundamental uma alfabetização do olhar, aprendendo e
apreciando as formas, linhas, cores, volumes e particularidades, que
proporcionam uma infinidade de leituras. Somados aos textos verbais,
a linguagem da arte ajuda o aluno a interagir com o mundo e a se
expressar melhor, além de desenvolver criticidade e a percepção
visual.
Entre os elementos da arte que servem
à leitura das imagens, tem-se a cor, que possui significados
diferentes para diferentes culturas e sua análise possibilita
conhecer mais sobre suas possibilidades.
Neste projeto, serão explorados esses
pontos – a leitura de imagens e a cor, apreciando algumas obras do
pintor brasileiro Romero Britto. O artista foi escolhido pela alegria
expressa através das cores e formas de suas obras, que levam o
observador a um ambiente mágico. Dono de um traço quase infantil,
Britto usa cores vibrantes e imagens do cotidiano em pinturas a óleo,
explorando formas geométricas ou figuras de sua preferência, como
corações ou animais.
Essa viagem ao mundo deste artista
contribui para que as crianças do ensino fundamental desenvolvam a
capacidade de ler o mundo com sensibilidade e criatividade.
Suas obras são do estilo Pop-Art que
está baseado em imagens populares e de consumo, estando ligado à
publicidade. Por isso, o artista usa textura gráfica na maioria de
suas obras, com um traço único e exclusivo.
A similaridade entre os traços e
cores de Britto com o mundo infantil facilita o desenvolvimento desta
atividade e a identificação das crianças com a arte. É uma forma
de inicia-los na linguagem artística.
OBJETIVOS
Geral
Específicos
Experimentar as possibilidades
expressivas da cor;
Trabalhar a leitura e releitura de
obras de arte;
Desenvolver a percepção visual e a
coordenação motora fina;
Adquirir consciência de
responsabilidade com o meio ambiente através da reciclagem;
Trabalhar a imaginação e a
criatividade;
Desenvolver a interação e a
socialização
FUNDAMENTAÇÃO
TEÓRICA
Há inúmeros estudos que abordam
sobre a importância da Arte para as crianças e seu desenvolvimento.
Começando por VYGOTSKY (2001 in
GALENO), que afirma que a vivência com a arte “implica em emoção
dialética que reconstrói o comportamento e por isso ela sempre
significa uma atividade sumamente complexa de luta interna que se
conclui na catarse” (VYGOTSKY, 2001a, p. 345). Ou seja, o contato
com a arte, quando bem vivido e assimilado, promove a autorrealização
e ajuda o aluno a desenvolver melhor as suas potencialidades. Nessa
linha interacionista, LEONTIEV (2000 in GALENO) defende que a
educação estética busca ensinar a capacidade de perceber e
entender arte e a beleza em geral.
É sabido que a arte tem uma grande
importância na vida das pessoas desde o início das civilizações.
Segundo MARTINS et al (1998 in COLETO 2010):
“Cada
um de nós, combinando percepção, imaginação, repertório
cultural e histórico, lê o mundo e o reapresenta à sua maneira,
sob o seu ponto de vista, utilizando formas, cores, sons, movimentos,
ritmo, cenário...” (MARTINS et al, p.57).
Ainda sobre a experiência estética,
de acordo com FERRAZ e FUSARI (1999 in COLETO 2010):
“a
arte se constitui de modos específicos de manifestação da
atividade criativa dos seres humanos ao interagirem com o mundo em
que vivem, ao se conhecerem e ao conhecê-lo”.
(FERRAZ
e FUSARI, p.16)
Mesmo sendo algo que afeta a todos, a
arte é vista e sentida de maneiras diferentes por crianças e
adultos. Para a criança, mais que para o adulto, a arte é uma forma
de se expressar, pois a criança lida com o mundo de modo lúdico,
faz o que lhe dá prazer e satisfação. Por isso gosta tanto de
brincar e desenhar. (SANS, 1995 in SILVA et al).
De acordo com OSTROWER (1987 in COLETO
2010), “nas crianças, o criar – que está em todo seu viver e
agir – é uma tomada de contato com o mundo, em que a criança muda
principalmente a si mesma”. Criar é uma necessidade da criança.
Continuando com MARTINS et al. (1998
in COLETO 2010), afirmam que a “arte é a linguagem básica dos
pequenos e deve merecer um espaço especial, que incentive a
exploração, a pesquisa (...)”.
Os desenhos das crianças são os
registros dos seus sentimentos e das suas percepções do meio, pois
“a arte infantil faculta-nos não só a compreensão da criança,
mas também a oportunidade de estimular seu desenvolvimento, através
da educação artística” (LOWENFELD e BRITTAIN, 1970 in COLETO
2010).
Além disso, a criança se expressa
através da arte com mais desenvoltura porque, em sua criação, não
há certo ou errado. Para LOWENFELD e BRITTAIN (1970 in COLETO 2010),
a criatividade é uma ação, é um comportamento em que a criança
produz e constrói continuamente.
Dentro da perspectiva vygotskiana,
considera-se ainda sobre a experiência estética que quanto mais a
criança:
“veja,
ouça e experimente, quanto mais aprenda e assimile, quando mais
elementos da realidade disponha em sua experiência, tanto mais
considerável e produtiva será, como as outras circunstâncias, a
atividade de sua imaginação” (VYGOTSKY 2001, p. 18).
Isto pode ocorrer por meio do contato
com diferentes possibilidades de leitura de imagens, seja jornais e
revistas, pinturas, quadrinhos, seja filmes, imagens publicitárias,
entre outros.
Concluindo com LOWENFELD e BRITTAIN
(1970 in COLETO 2010), “a arte pode contribuir imensamente para
esse desenvolvimento, pois é na interação entre a criança e seu
meio que se inicia a aprendizagem”.
CONTEÚDOS
DURAÇÃO
5 aulas sendo:
DESENVOLVIMENTO
Cada integrante da equipe desenvolverá
a atividade em questão na turma de Ensino Fundamental I (1º ao 5º
ano) em que estiver realizando o Estágio Curricular III, do curso de
Pedagogia.
Sequencia
didática
1ª aula: Na
primeira aula, organizar a turma em roda para uma conversa sobre as
cores no cotidiano, seja nas roupas, nas frutas, nas casas, nos
objetos, seja na propaganda, na televisão.
Em seguida, mostrar aos alunos que a
cor também é um elemento de expressão em desenhos, pinturas,
fotografias e filmes. É o momento que a professora pode fazer com os
alunos associações entre as cores e os sentimentos. Pergunte: que
cor representa o amor, a tristeza e a felicidade?
Como atividade inicial, sugerir aos
alunos que façam uma pintura para expressar um sentimento usando a
cor para representá-lo. O importante é explorar a expressividade e
o potencial gráfico da criança.
2ª aula: Na
segunda aula, é o aquecimento do olhar. Apresentar Romero Britto a
eles utilizando Datashow e notebook. Expor imagens de telas do autor,
como “Butterfly”, “Love’s in the Air”. Há cores nas telas?
O que acham que representam? Que sentimentos? O que o artista quis
mostrar? Como vocês se sentem ao olhá-las?
Durante o processo de conversa com os
alunos, anotar no quadro os comentários e expressões das crianças.
Então, apresentar o artista Romero
Britto. Contar a história de vida dele, conforme abaixo, levando-os
a fazer associações entre a vida e a obra de Britto.
ROMERO FRANCISCO DA SILVA BRITTO
Aos 8 anos, um garoto pernambucano
começou utilizando papelão e jornal para fazer suas telas. Na
escola, além de decorar cadernos com desenhos coloridíssimos,
passava horas no quintal de sua casa criando. E ele adorava ganhar de
presente livros de arte.
“Na condição de criança pobre no
Brasil, tive contato com o lado mais sombrio da humanidade. Passei a
pintar para trazer luz e cor para minha vida. Minha família era
muito pobre. Éramos nove irmãos e não tínhamos dinheiro para
nada. Criar era um refúgio: eu pintava um mundo colorido, diferente
do meu.”
Aos 14, fez sua primeira obra de arte
e vendeu seu primeiro quadro à Organização dos Estados Americanos.
Entretanto, com sua vida humilde, ele estabeleceu metas para seu
próprio futuro.
Mas foi só adulto que entendeu a sua
vocação. A inspiração foi surgindo com o tempo e o aprendizado
diário era visto nas obras.
Ele acredita que o colorido do
Nordeste e do Brasil deu o tom ao seu estilo, tomado pela mistura dos
tons alegres. “Eu acho que todos nós temos essa possibilidade. O
potencial de ser influenciado pelo seu meio ambiente e você
influenciar o seu meio ambiente. Eu acho que, com certeza, o colorido
do Nordeste e, em geral o Brasil, sempre esteve presente na minha
vida”, diz Britto.
Foi para os Estados Unidos e trabalhou
como atendente de lojas, lanchonetes e prestou serviços em um lava
jato em Miami. Até que conseguiu espaço em uma galeria de arte na
Flórida. Seus trabalhos começaram a ser vendidos e se espalharam
pelo mundo.
Há quem considere suas obras a ‘arte
da cura’. O próprio artista acredita que muitas vezes a arte
ajuda, mas não é tudo. Quando não se sente bem, ele costuma fazer
o que mais gosta: pintar.
O sucesso de suas obras lhe rendeu
muito reconhecimento, mas também consequências como a cópia de
suas telas e esculturas por outras pessoas. Para ele, muitas pessoas
poderiam utilizar suas obras como uma fonte de inspiração e criar
peças novas.
Ao final da contação sobre a vida do
artista, perguntar às crianças: de onde vem a inspiração de
Romero Britto? Qual a importância da arte na vida dele? Vocês acham
que pessoas de lugares diferentes podem ler o mesmo quadro? A arte é
uma linguagem?
3ª aula:
Na terceira aula, apresentar aos estudantes o que é releitura: é
vivenciar um trabalho e produzir outro com base nele. Mostrar que a
releitura não é cópia, nem precisa ser idêntica à obra de
origem. Pode-se definir como critérios o uso de cores e a geometria.
Após as orientações, distribuir papel, lápis, lápis de cor e
hidrocor para que as crianças criem baseadas nas cores e geometria
de Britto.
4ª aula:
Na quarta aula, dispor na sala de aula tintas guache, pratos de papel
e bandeja de isopor, tampas de garrafa pet, para que os estudantes
criem suas releituras, sempre deixando à mostra obras de Romero
Britto como referências: “Butterfly”, “Love’s in the Air”,
“Cachorro Azul”, “Boom Fish” e “Doty Fish”.
5ª aula:
Na quinta aula, faremos a reciclagem com CD’s velhos, papel e tinta
guache para produção da releitura das telas de peixes.
A culminância será a exposição “O
mundo colorido de Romero Britto” – Leituras e Releituras no
Ensino Fundamental I. Expor desde os primeiros desenhos até as obras
de reciclagem no pátio da escola. Convidar as outras turminhas para
apreciar a exposição e conhecer um pouco sobre este grande Artista.
RECURSOS
- Lápis grafite;
- Tinta guache;
- Pinceis;
- Lápis de cor;
- Imagens de pinturas de Romero
Britto: borboleta, peixe, cachorro e coração;
- CD’s;
- Tesoura sem ponta;
- Bandejas de isopor;
- Pratos de papel;
- Notebook;
- Datashow;
- tampas de garrafas pet;
- cola branca e cola de isopor;
AVALIAÇÃO
Ao estabelecer associações para as
cores e obras, o aluno estará fazendo uso de valores pessoais,
portanto, não há certo ou errado. Por isso, a avaliação deverá
ser processual com a professora verificando se o aluno participou das
rodas de conversa, se desenvolveu uma relação entre cor, formas e
expressividade, se na sua releitura houve desenvolvimento da
percepção artística.
Um dos pontos a ser observado pelo
docente é se houve alguma mudança no comportamento e no crescimento
do educando, inclusive nas outras disciplinas.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, A.M. ; COUTINHO, R.; SALES,
H. M. Artes visuais da
exposição à sala de aula.
São Paulo: EDUSP, 2005a.
COLETO, Daniela Cristina. A
Importância da Arte para a Formação da Criança. Revista
Conteúdo, Capivari, v.1,
n.3, jan./jul. 2010. Disponível em
<http://www.conteudo.org.br/index.php/conteudo/article/view/35>
Acesso em 17.04.2014.
EÇA, Teresa Torres Pereira de.
Educação através da Arte
para um Futuro Sustentável.
Caderno CEDES, Campinas, vol. 30, n. 80, p. 13-25. Jan.-abr. 2010.
Disponível em <
http://www.cedes.unicamp.br > Acesso
em 15/03/2012.
Imagens de Romero Britto